Conversa
com o Sr. Manuel Gomes
“Comprei
um martelo e um serrote e pensava já ter tudo”
Num sítio
nortenho, conhecido por Ribeira Funda, pertencente à freguesia de São Jorge,
fomos ao encontro de pessoas que do seu trabalho fazem arte. Um desses talentos
é o senhor Manuel Gomes, nascido a 16 de Dezembro de 1919, que exerceu durante
longos anos várias profissões tais como carpinteiro, barbeiro e alvineu.
Os
primeiros passos
Desde
muito cedo aprendeu o valor do trabalho, começando por ajudar a família nos
trabalhos da terra.
Embora não fosse à escola,
reconhece algumas letras e números que teve possibilidade de aprender no
quartel e com a Sr.ª Cândida Pacheco, que deu aulas neste sítio.
Ganhou o
seu primeiro dinheiro (25$00) aos 20 anos, que contribuiu para as despesas da
família.
Transportar vinho, semear trigo e
trabalhar a terra foram os seus primeiros trabalhos.
O primeiro
objecto construído para sua utilidade, foi um banco, despertando o gosto e
interesse por esta arte.
Inicialmente
era tudo manual, com a chegada da luz equipou-se com máquinas que lhe vieram
facilitar o trabalho.
A madeira era originária da África e do Brasil, sendo
esta transportada até ao porto do Funchal por via marítima, depois era
transportada de carro até ao seu local de trabalho, na Ribeira Funda. Também
por vezes, algumas pessoas levam madeira própria.
Os seus clientes eram oriundos do seu sítio e
freguesias vizinhas.
Do seu trabalho fez: cadeiras, mesas, portas e
mobiliário em geral, até chegou a fazer caixões.
O
pagamento era feito em relação ao número de pés (unidade de medida).
Quando questionado se tinha ajudantes, com sentido de
humor disse, que tinha dez, referindo-se aos dedos das mãos.
Por
razões de saúde e de falta de madeira, não continua esta arte.
No
trabalho de barbeiro, desfazia a barba, e efectuava corte de cabelo só a
homens.
No
trabalho de alvineu partia pedra para construção de habitações.
Também
fervia borra (sedimentos que ficam no fundo das pipas de vinho) para produção
de aguardente.
Realçamos
a sua boa disposição, o sentido de humor e a força de vontade para continuar o
exercício de carpinteiro, embora impedido pela dificuldade física.
Marisa Gomes; Sandy Reis; Regina Spínola
Fotografia: Susana Pacheco
Navegador n.º 137 – Agosto de 2004