O sr. João Gouveia Spínola, também conhecido por “João Pochinha” tem 83
anos (nasceu a 5 de Janeiro de 1922), e vive na Ribeira Funda. Sabe inúmeras
histórias, algumas que ouviu dos seus tempos de juventude, outras que viu ao
longo da sua vida, e tem sempre prazer em as contar.
Navegador Mensal - Como
foi a sua juventude? Recorda com saudade?
João Gouveia Spínola - Lembro-me de algumas
coisas com saudade. Quando era mais novo, andava descalço e tinha
de ir pastar as vacas.
NM
- Que recordações lembra-se com saudade desses tempos de juventude?
JGS - As aventuras que passei
com o meu irmão Jorge. Um dia foi com o meu irmão Jorge a Assomada (Ribeira
Funda), vimos lá o carteiro a deitar pão a um cachorro, dissemos que era pecado
deitar pão aos cães. Ele fez barulho connosco e disse que nós não tínhamos nada
a ver com a vida dele. Nós demos uma porrada nele e ele fugiu deixando o saco
das cartas lá no chão. Depois fomos atrás dele, porque pensamos que íamos para
a prisão se não lhe déssemos as cartas. Eu agarrei-o pelo pescoço e disse para
ele esperar que o meu irmão já trazia a mala dele.
NM
- Como eram passados os tempos livres, como se divertiam?
JGS - Fazia jogos com o meu irmão Jorge, como
o jogo da manhã entre outros.
NM
- Como vê a juventude de hoje em dia?
JGS - São diferentes porque
antigamente não se ia à escola e agora todos vão. E também antes as pessoas
comiam de tudo e agora não é assim, é tudo escolhido. Antigamente os jovens
apanhavam erva e cuidavam dos animais e agora não.
NM
- Desde novo quais os trabalhos que exerceu?
JGS - Cuidava das vacas e apanhava erva, fui
para o quartel com 21 anos, estive lá 18 meses, quando sai fui para ajudante de
mestres. Depois de aprender fiz casas com os meus filhos, em S. Jorge, Ribeira
Funda, no poiso.
NM
- Estudou? Gostava de ter estudado?
JGS - Não estudei. Mas gostava
de aprender tudo, aprendi a fazer o meu nome no quartel.
NM -
Alguns anos atrás a Madeira sofreu alguns sismos, recorda-se
de algum, teve medo?
JGS - Lembro-me de estar na
fazenda a cavar, e a terra começou a tremer, e todos os que estavam ali,
ajoelharam e rezaram.
NM -
Quando era novo teve, ou a sua família, chegou a passar fome?
JGS - Não tive problemas com a
fome, graças a Deus, tinha comer para sustentar a minha família.
NM -
Pertence a uma família numerosa?
JGS - Sim: doze Irmãos, (seis
homens e seis mulheres). Desses só restam dois irmãos. Tenho dez filhos, vinte
e três netos e três bisnetos.
NM -
O que existiu, e que já não existe que se lembra na Ribeira
Funda ou em São Jorge?
JGS - Os postos de leite na
Ribeira Funda, tinha cinco. O último foi na casa da Sra. Amélia, destruído à
pouco tempo.
NM -
O que costumava fazer no Natal?
JGS - Ia às missas do parto e à missa do galo.
Costumava matar um porco e fazia uma festa com a família.
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Uma das
histórias
do Sr. João
“Havia um senhor viúvo com três filhos. Um deles pediu para que o pai
lhe passasse a herança para o seu nome. O pai disse que não podia fazer isso
porque depois ia para o inferno. O filho respondeu:
- Não faz mal, só os primeiros 15 dias é que iam ser dolorosos, era para
se acostumar, mas depois não custava nada.”
Sandy Reis / Regina Spínola