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Moinho com mais de 300 anos
Navegador n.º 179 - Fevereiro de 2008

     O Moinho da Achadinha em São Jorge, foi recuperado recentemente, mas continua a moer trigo e milho da mesma forma que o fazia há mais de 300 anos, com recurso à água.
     Este moinho é mantido em funcionamento pelo moleiro Lino Albino Mendonça e pela sua mulher, a moleira Ana Rosa.
     O Navegador Mensal visitou o moinho, e conversou com o senhor Lino e com a senhora Ana Rosa.

     

     (Navegador) - Qual a data provável de construção deste moinho.

     (Lino Mendonça) - Não há registo da data de construção. Mas pensa-se que deve ter mais de 300 anos que foi construído.

     

     Este trabalho esteve sempre ligado à sua família?

     Sim, isto foi de meu pai, quando ele morreu, paguei aos meus irmãos e fiquei com isto com a minha mu-lher.

     

     Há quantos anos trabalha aqui.

     Por minha conta, já trabalho aqui há cerca de 35 anos.

     

     Ainda muitas pessoas vêm ao moinho?

     Sim, vêm de quase a toda a parte da Madeira. Como não há muitos moinhos, e isto aqui fica à beira do ca-minho, muitas pessoas passam aqui para moer. As pessoas deixam aqui o trigo ou milho, se no dia não se pode moer, passam dali a oito dias e levam para casa moído, para fazerem o pão ou fazerem sopa de milho.

     

     Moem aqui mais trigo ou milho?

     Aqui se mói mais milho que trigo.

     

     Como funciona o moinho

     Este moinho funciona a água. A água vem da montanha, desde o Ribeiro Bonito pela levada do Rei. Tem um tubo que trás a água desde a levada do rei até aqui abaixo.

     

     Há vários anos atrás, no tempo em que quase todas as pessoas plantavam trigo, o trabalho aqui no moinho era mais intenso?

     Sim, havia mais trabalho que agora. Nesse tempo moía-se mais trigo que milho, há uns 50 anos atrás.

     

     O moinho foi restaurado recentemente. Foram mantidas todas as funcionalidades como antiga-mente?

     Sim é sempre igual, foi restaurado no ano 2000 e foram mantidas todas as coisas como antigamente, como a maquia. As pessoas quando trazem milho ou trigo não pagam, é tudo pela maquia. Conforme a quantidade que as pessoas trazem, nos tiramos a nossa paga em trigo ou milho moído.

     Antes não tínhamos luz eléctrica aqui dentro e água da rede, como agora temos. E a princípio também cozi-nhava-se tudo no lar, era tudo com lenha. Agora já temos um pequeno fogão.

     

     Quando as pedras do moinho ficam gastas, substituem por outras?

     Sim, as pedras são substituídas quando ficam gastas, precisam de ser tiradas e picadas. Depois é voltar a colocar lá no lugar. Mas as pedras também acabam, e quando ficam muito finas temos de ter outra.

     

     Nos meses de verão em que pode por vezes faltar água o moinho é encerrado, ou tem água durante todo o ano?

     Não, o moinho está sempre aberto, tem água durante todo o ano.

     

     Comparando esta farinha de casa com a comercializada, tem muitas diferenças?

     As que as pessoas compram aqui, é do trigo que se semeia cá na Madeira e a que vai para as padarias e para as vendas, é tudo que vem de fora. É tudo de trigo. Mas o trigo daqui é diferente do que vem de lá de fora. O pão feito com farinha de cá cheira, mas se for só farinha de fora não cheira.

     

     Este é habitualmente um local de vista dos turistas?

     Sim, vem de toda a parte aqui. Vem espanhóis, vem portugueses, vem italianos de toda a parte do mundo. Quando eles chegam aqui, eu costumo perguntar de onde eles são.

     

     A senhora Ana Rosa, falou-nos ainda sobre o linho, e de um fuso que lá tem que era utilizado pela sua mãe; uma recordação que guarda com estima. Quando era solteira refere, que passavam noites a fiar, depois que casou deixou de fiar.

     Algumas quadras recordadas pela senhora Ana Rosa:

     
     "Este moinho de água
     Construído no passado
     Pelas pessoas antigas
     Tem grande significado
     
     Venham ver meus senhores
     O moinho da Achadinha
     Ele é por nós estimado
     E à igreja não vinha"

     O Moinho fica situado no sítio da Achadinha, e está aberto todos os dias, mais ou menos entre as 9h e as 20h.

     

Catarina Mendonça | Linda Câmara