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A nova era de alimentos

     Sempre vivi em contacto com a natureza.

     Embora vivesse, desde garota, numa pequena vila no interior do país, na minha família e/ou entre os conhecidos, sempre houve pessoas com áreas de terreno grandes onde cultivavam os mais variados legumes e criavam o mais variado tipo de animais destinados à sua alimentação.

     Lembro-me de comer queijo fresco das cabras, das ovelhas e ou das vacas de pessoas conhecidas, lembro-me da matança do porco em casa da minha avó materna, lembro-me também dos mais variados animais criados na tira de terreno estreita pertencente aos meus avós paternos…

     Também houve uma altura em que os meus próprios pais se dedicaram ao cultivo de legumes destinados à nossa alimentação. Dado o esforço que representava, (para já não falar na dedicação), depois de um dia de trabalho e noites mal dormidas, sempre achei que o talho e o mercado serviam bem, (eu também dedicava algumas horas do meu estudo à rega daqueles legumes, o que me servia de saudável distracção!).

     Os mais velhos sempre respondiam com uma certa graça à minha conversa travessa e explicavam, rindo-se, que era sempre bom as pessoas cultivarem o que comem, porque desse modo sabiam o que comiam.

     Eu, para além dos problemas conhecidos popularmente como a febre-de-malta, ou a doença dos coelhos, etc., nunca ouvira nada de extraordinário.

     Tudo quanto comia, desde o leite que ia buscar a casa de uma senhora que tinha várias vacas e vendia à vizinhança, (e não só), o leite e seus derivados, a fruta vinha das freguesias limítrofes pertencente àquela vila e era vendida no mercado local… eu não dava por grandes problemas relacionados com a alimentação.

     Agora, entendo o grave problema que é, hoje em dia, a alimentação. Independentemente dos locais de proveniência dessa mesma alimentação, estamos sempre a encarar com problemas, mais ou menos graves, relacionados com ela.

     Não se trata só de um problema de sabor, mas de um problema de saúde pública. Então, nos últimos anos, temos sido bombardeados com notícias quase contínuas sobre os géneros alimentares que nos deixam os cabelos em pé. Como sujeitar esses mesmos alimentos a um controlo eficaz, capaz de despistar qualquer tipo de químicos passíveis de afectar a saúde pública ou até de provocar a morte?

     Vivemos numa economia mundial onde se transportam quantidades colossais de géneros alimentares, por isso não é fácil, pelo menos, à primeira vista, mesmo que haja laboratórios dedicados somente a esta tarefa, é impossível, no mínimo, intervir a tempo para evitar que pessoas sejam afectadas por esses alimentos manipulados.

     Então, como fazer? Não precisamos, se calhar, de importar de todo o sítio do mundo… se nos cingíssemos somente a uma área do globo? O problema da quantidade manter-se-ia, mas a origem seria mais controlada.

     Depois, e sempre fatalmente, teremos de passar pela responsabilização dos fabricantes para que eles não repitam o problema. Porque tudo passa pelas pessoas e pelas suas decisões. E enquanto o objectivo final for sempre o lucro, e só, estamos e estaremos sempre sujeitos a decisões erradas tomadas por pessoas com falta de escrúpulos.

     

Fátima Nascimento