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A bondade e a estupidez

     Há pessoas que insistem em confundir estupidez com bondade e o pior é que têm o poder de convencer os outros, pela vergonha, de que têm razão. Mas não é.

     Estupidez e bondade nada têm em comum.

     O que acontece é que a falta de valores leva a que as pessoas mal intencionadas procurem confundi-las na cabeça dos outros.

     Por exemplo, quando uma pessoa precisa de um favor - dinheiro - e outra lho cede de boa fé, não está a ser estúpida, está a ser boa.

     Agora, o que acontece é que nem sempre as que beneficiam desta bondade a honram cumprindo escrupulosamente as suas obrigações que são o pagamento total ou faseado da quantia emprestada.

     Tudo depende da pessoa a quem se empresta e da intenção desta.

     É nestas que está o problema e não nas outras. Mas é precisamente aqui que a porca torce o rabo e tenta virar-se o feitiço contra o feiticeiro, na maior parte das vezes: as boas pessoas pensam "Que horror! Já não se pode confiar em ninguém!", ao passo que as más defendem que a pessoa que empresta é estúpida, pois ela não sabe que não se pode confiar em ninguém?

     A partir daqui geram-se as duas facções a pró e a contra que falam até o assunto se esgotar nas suas mentes.

     Entretanto, e apesar do que se possa dizer, a verdade é só uma: alguém emprestou e a outra parte não honrou o compromisso. E é nesta que se têm de concentrar as atenções. O que fazer nestes casos?

     A queixa na polícia é a maneira, ao que parece, mais sensata de resolver a questão. O que acontece é que as pessoas, doridas e com medo da reacção dos outros, evita tornar público o que aconteceu: têm dedo de passar por parvas.

     E, até certo ponto, são capazes de se sentir parvas, por terem acreditado na pessoa que, numa aflição, lhes pediu ajuda. Mas não são.

     Elas fazem o que qualquer pessoa, mais desligada do dinheiro, faz quando vêem alguém aflito - ajudam.

     O que tem de acontecer, e vai ser difícil mudar aqui as mentalidades tão viradas para a boa imagem pública, é obrigar as pessoas em dívida a cumprir as suas obrigações morais que já deveriam ter sido aprendidas em criança, não sendo assim, não maltratem quem apenas se limitou a fazer o que já poucas pessoas fazem: acreditar em alguém.

     E não há mal nenhum nisto; mal está nas pessoas que não honram os seus compromissos. São estas que têm de ser condenadas e não as outras. É contra estas que os ânimos têm de se acender.

     O problema é sempre a justiça tão limitada nos seus meios, mas como tenho defendido: nada é impossível. Entretanto, e enquanto não se resolve o problema ou problemas, ponham a culpa na pessoa certa: a incumpridora.

     

Fátima Nascimento